OPINIÃO

PROSA E VERSO - CRISPINIANO NETO

Usando o nome da Bíblia em vão

 

Escutei recentemente num programa evangélico do rádio mossoroense uma frase antiga: se fosse para casar homem com homem, Deus teria feito Adão e Ivo e não Adão e Eva. Ora, se formos partir de interpretações literais e imbecis, além de imbecilmente literais como esta, poderemos dizer, que o mesmo Deus, feito homem, fez da frase "amai-vos uns aos outros", a sua principal bandeira. E ele, com esta frase não estava condenando nem incentivando o homossexualismo, disse apenas que os seres humanos, independentemente de sexo, devem se amar. Sabemos também que, assim como, amor nem sempre é sexo, o sexo nem sempre é amor, mesmo quando feito entre casais bem unidinhos nos altares católicos ou evangélicos, mesmo quando feito apenas com fins de reprodução bem ao modelo "papai e mamãe", como interpretam alguns estreitos leitores da Bíblia. Fôssemos embarcar na leitura burra que alguns fazem da Bíblia, teríamos que admitir que Jesus teria dito "amai-vos uns às outras..." e não "uns aos outros", como disse. Ora, bolas. Trata-se apenas de um jogo de palavras oportunista e, porque não dizer, infame? Isso parece um pastor que uma vez não quis me emprestar um serviço de som para uma apresentação de cantoria de viola porque, segundo ele, a Bíblia proibia. Tive que dizer-lhe que quando a Bíblia foi escrita nem existia cantoria de viola, nem serviço de som e muito menos pastor evangélico.

Já vi isso com negros

Uma vez, o poeta Luiz Antonio, já falecido, ao entrar no ônibus em Mossoró, pela porta da frente usando seu direito de passagem gratuita por ser idoso, começou ouvir piadas do motorista que era negro, contra os idosos. Luiz Antonio, que além de poeta não era de levar desaforos para casa, respondeu: Tudo isso que você está dizendo: eu já ouvi dizerem tudo isso contra os negros... Segunda passada em Natal, em frente à Catedral vi passar um casal gay de mãos dadas. Um negro que estava na calçada distribuindo panfletos começou a esbravejar contra os namorados do mesmo sexo. Destilou tudo quanto era preconceito. Tive que me meter na história, repetindo Luiz Antonio. Cuidado, moço, essas coisas já disseram contras os negros. Agora, que o congresso está aprovando a união deles, todos terão cartas de alforria.

 

 

 

DIREITO E CIDADANIA - DR. ALDO ARAÚJO

A decisão do Supremo e a nova realidade homossexual no Brasil

 

Há poucos dias, o Supremo Tribunal Federal, em decisão histórica, reconheceu a união estável entre homossexuais no Brasil e, com o resultado, trouxe críticas e comemorações.  O resultado corrobora as informações colhidas no Censo 2010, onde cerca de trinta mil casais declararam-se homossexuais. Apesar da euforia, muito ainda deverá ser feito para diminuir o preconceito velado, existentes na sociedade e na vida corporativa, só para citar alguns exemplos.

Na mitologia e na Grécia Antiga, o livre exercício da sexualidade era verdadeiro privilégio dos bem-nascidos.  Fazia parte do cotidiano de deuses, reis e heróis. A bissexualidade estava inserida no cotidiano, sendo que a heterossexualidade era voltada apenas para a reprodução.  Já na Roma antiga, o homossexualismo era visto como algo natural, ou seja, no mesmo nível das relações entre casais, amantes ou de senhor e escravos.

A origem da palavra gay surge da expressão inglesa, oriunda do termo “gai”, advinda do francês arcaico, utilizada para designar uma pessoa espontânea, alegre, entusiasmada e feliz.  A princípio pejorativo, o termo passou a ser utilizado pelos próprios homossexuais como expressão de sua autodeterminação.

Voltemos ao Brasil, o qual começa a assistir a partir da década de noventa, a uma divulgação mais ampla nos meios de comunicação de massa acerca da diversidade sexual. Novelas, filmes, campanhas publicitárias, mercado editorial e internet.  Como ápice da divulgação, em 1997, iniciou-se a hoje tradicional parada gay, que atualmente é realizado em todas as grandes cidades do mundo, e, segundo o Guiness Book, foi considerada a maior do gênero no mundo, em sua edição em 2006.

Uma pesquisa foi realizada pelo Data Folha durante a 9ª Parada Gay de São Paulo, confirmando a hipótese da maior escolaridade e renda média. A amostra, a qual pode ser considerada como representativa do universo GLBT, demonstra que 50% possuem nível superior e 20% ganham acima de R$ 5.200 reais.

A nova realidade jurídica brasileira, demonstradas na posição dos ministros do Supremo, certamente provocará imensas transformações sociais, com a legalização dos relacionamentos homossexuais, aflorando, por conseguinte, a possibilidade de novas configurações familiares.

 

 

FAZENDA DA ESPERANÇA - PAULO CESAR AMBRÓSIO

 Quem tem esperança vive diferente

Quando a droga é tirada de um jovem é preciso dar algo que seja muito mais forte, dar mais além, dar-lhes uma vida nova e esse é o trabalho da Fazenda da Esperança. Dar aos jovens uma vida que parte da compreensão do que é o amor!

Um ano para limpar o ser! Nos primeiros meses, o maior contato com a natureza, no trabalho com a enxada, a foice e os animais. O momento de irrigar as pequenas mudas, durante meses, para que não morra e venha complementar a mesa de refeições. Os jardins das casas onde moram, como também da Fazenda em geral, são bem cuidados para que se sintam bem e em harmonia com a natureza. Orientados a manterem limpos onde vivem, pois muitos chegaram da rua e já perderam esse senso.

Nesse primeiro período, a nova vida proposta se mostra inteiramente contrária à que levavam na sociedade, e se não se entregam por inteiro, dificilmente superarão as dificuldades da abstinência, saudades e outros tantos motivos que os perturbarão durante o ano de recuperação.

A missão da Fazenda da Esperança de dar uma nova vida não é tão simples, pois muitas vezes o jovem que deseja recuperação passou vários anos de sua vida, muitos até mais da metade de sua existência, consumindo drogas, roubando, sofrendo e praticando violência. E agora, em apenas um ano, exatamente 12 meses, a comunidade terapêutica assume a responsabilidade de dar uma vida que substitua a droga por amor, unidade, tolerância, convivência e esperança.

Parece impossível cumprir essa meta! Mas, em cada Fazenda, há pessoas que deixaram tudo: família, empregos, casa e tantas outras vantagens, para doar sua vida integralmente para aqueles que buscam mudar suas realidades.

Uma realidade que não deixa de ser de cada um, pois na vida em sociedade, tudo é responsabilidade de todos, tanto os positivos, quanto os negativos.

O resultado disso é a mudança da existência de um jovem, que outrora se encontrava morto, e na Fazenda da Esperança, em apenas um ano, tem uma vida nova.”

Assim descreve o jornalista Mauricio Araújo, sobre o trabalho realizado na Fazenda da Esperança. Dentro desse carisma surgiu há oito anos, em Serra do Mel, uma das mais de 70 Fazendas da Esperança, espalhadas no Brasil e também pelo mundo. Na Fazenda da Esperança Dom Bosco – Serra do Mel – RN, os jovens recebem também essa proposta para uma vida nova, baseada no trabalho, na convivência e na espiritualidade. Pontos esses que explicaremos com maiores detalhes nas próximas edições de O Serrano.

Conheçam agora o que diz Félix (37 anos) um dos jovens que vive atualmente conosco na Fazenda em Serra do Mel: “...estou na fazenda há três meses e para minha surpresa está sendo algo maravilhoso, pois estou tendo esse reencontro com Deus, onde no mundo que eu vivia foi retirado por meio das drogas, a fazenda como estrutura nos apresenta Deus, como caminho, verdade e vida; e faz de nós novos cristãos.